Memórias de um Nobre

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Capítulo III – A PENA DO CORVO

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Quando o nobre Samoht ouviu algo incomum na janela de seu quarto, ele logo levantou da cama olhando fixamente para o vitral. No entanto, ele nada viu, nada mais escutou. Decidido então a investigar o ruído que rompera seu sono, Samoht guardou num bolso de sua calça a chave de seu novo quarto.

Ao deixar as escuras paredes daquelas ruínas, que ele chamou de lar, ele olhou bem para a paisagem que o cercava. A frente daquele castelo em ruínas haviam campos, aos fundos um jardim morto e ao lado passava um rio pobre. Até neste fim de mundo alguém vem me atormentar, disse ele com ar de decepção. Ao observar, do lado de fora, a janela de seu quarto, uma ossada o esperava junto a um monte de cinzas e roupas queimadas.

-Mas… Que isto significa?- Perguntou ele a si mesmo. Curiosamente ele recebeu uma resposta inesperada.

– Tu vais morrer – Foi dito por uma fonte desconhecida… perto dele, estava somente o corvo que o seguia, logo atrás.

-Não tentes me intimidar! Estas ruínas são meu oblivion, são minhas e de ninguém mais!- Respondeu ao além, a um receptor desconhecido.

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Após isso, andou pelos campos nas proximidades de seu castelo até encontrar um pomar, que lhe forneceu o alimento do dia. Recolheu as maçãs numa cesta e as levou para as ruínas do castelo. Quando pela entrada do castelo ele passou, sentiu-se tonto… ele logo caiu ao chão com a visão embaçada e dificuldades para respirar. Desesperado, ele segurou fortemente seu peito e, ao olhar para sua mão, observou que estava impregnada por um pó de cor leve e pouco perceptível. Passou sua outra mão em suas vestes e percebeu que também se impregnara de um pó desconhecido.

-Enve… envenenadas estavam estas vestes… – Disse ele, tirando as roupas sujas de veneno, segundos antes de perder a consciência.

No entanto, não foi desta vez que Samoht foi beijado pela morte. Horas depois ele acordou com o corpo dolorido e notou, enquanto abria os olhos, um perfil humano em sua frente.

– Como tu consegues desviar tanto da morte?- Perguntou o ser humanoide andando em sua direção.

-Quem…Quem és tu?- Samoht perguntou, enquanto se levantava com esforço e terminava de tirar as roupas envenenadas.

-Sou o corvo que te segue, o Corvo do Norte… Naquela noite, fui eu que alterei o seu experimento de alquimia, eu botei fogo no castelo! Fui eu que salvei seu irmão e o criei para te matar… Eu envenenei estas vestes e fiz com que as encontrasse! Eu sou teu corvo, tua noite e teu fim!

– Mas, como pode? Disse o nobre samoht, reconstituindo suas energias e sacando o punhal guardado nas roupas que havia tirado.

– Reza a lenda que nesta região há uma família de nobres alquimistas… Em suas veias corre o sangue sagrado de magos anciões e, aquele que extinguir toda esta linhagem e beber o sangue de um deles tornar-se-á imortal.

Samoht finalmente recobrou sua energia. E olhava com ódio para figura humanoide a sua frente. Era um ser bípede e macérrimo, com seu corpo nú e coberto algumas poucas penas… Em sua face, um sorriso mórbido que lembrava a besta na qual seu irmão se transformara. Assustado, Samoht apontou o punhal a ele.

-Não seja tolo!- Respondeu o Corvo do Norte, abrindo seus braços. Entre o magro tronco e os braços daquela criatura, havia uma estrutura membranosa cheia de penas que se assemelhavam a asas.

A criatura voou na direção de Samoht fazendo ruídos animalescos com sua garganta. O nobre tentou acertá-lo com o punhal, mas com apenas com um golpe da criatura, Samoht foi jogado contra a parede atrás dele. O punhal caiu de sua mão… Com suas unhas, aquele ser reabriu as feridas no corpo de Samoht fazendo-o sangrar e gritar.

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– Pare, criatura infernal!- Gritou o velho que outrora conduziu Samoht a estas terras. Ele chegou pela porta da frente segurando uma espada curta e a apontou para aquela criatura que se dizia “Corvo do Norte”.

– Como ousas trair-me?- perguntou o Corvo, soltando o retalhado corpo de Samoht ao chão.

-Voltei aqui para ver como ele estava o nobre, mas eu o encontro quase morto em suas mãos. Quando me pagou para trazê-lo aqui não me disseste que o mataria!

A criatura andou, na direção do velho… Este logo perdeu a coragem que teve ao desafiar o Corvo do Norte. Enquanto isso Samoht arrastou-se para pegar o punhal que deixara cair. O velho, amedrontado, abaixou vagarosamente a lâmina que segurava, mas o Corvo do Norte não o perdoou, com um único chute o fez voar e cair a metros de distância fora do castelo, nos campos que o cercava.

Quando o Corvo do Norte virou-se para trás notou que sua presa havia escapado, mas ouviu um sussurro ao pé de seu ouvido dizendo: “A terra será teu berço eterno, Corvo!” e sentiu uma lâmina congelante perfurar sua barriga… Era a lâmina do punhal de Samoht atravessando suas carnes e dando a ele o descanso eterno da morte.

– Eu poderia ter sido imortal…- Disse a criatura momentos antes de falecer. Quando o coração do Corvo do Norte finalmente parou de bater, seus irmão corvos invadiram o castelo quebrando as janelas e agrupando-se ao redor do corpo, chorando juntos a morte daquela criatura…

Samoht andou poucos passos na direção do velho e logo caiu inconsciente. Ambos estavam muito feridos, mas o velho conseguiu levantar-se e encontrar o nobre. Samoht estava quase partindo para outra vida, ele sangrava muito mais que da última vez. A morte se aproximava do nobre e trazia consigo uma corrente de ar frio que soprava naqueles campos umbrais.

O velho correu para sua carroça em busca de utensílios que pudessem ajudá-lo. Quando ele retornou e encontrou o corpo de Samoht, utilizou a bebida para limpar suas feridas e pressionou os trapos de tecido contra elas para tentar estancar o sangramento.

-Desculpa-me, não sabia do que aquele ser era capaz… Apenas achei que fosse um bom negócio! – Disse o velho, mas Samoht, inconsciente, não reagiu.

Horas se passaram e Samoht acordou na cama de um hospital em sua cidade, cercado por colegas da Academia Arcana. Quando os viu, todos desejaram saúde e lhe perguntaram o que ouve.

-Ah… Eu… Eu não me lembro- Mentiu o jovem nobre.

Quando todos se foram e Samoht se recuperou, ele recebeu uma carta do velho que o levara na carroça. O nobre abriu a carta e leu: “Depois de levar-te ao hospital, retornei mais uma vez ao castelo e encontrei alguns instrumentos de alquimia (em mal estado, se me permite dizer) e, no subsolo, encontrei um quadro de uma família de nobres. Eu trouxe estes objetos comigo e os guardei em tua casa” . Quando chegou no que sobrou de sua casa (queimada por um incêndio), sentiu um ar familiar naqueles aparelhos de alquimia… E mais, quando olhou o quadro dito na carta, ele percebeu que ele estava lá! Era um quadro de sua família que, por estar no subsolo, não foi queimado. Aquelas ruínas na qual Samoht se escondeu foi, um dia, sua casa.

Samoht recebeu uma pequena quantia em dinheiro fornecida por seus colegas, e foi convidado a morar junto a um deles. O jovem nobre estava emocionado com a comoção da Academia Arcana com o que houve, isto é, com o incêndio de sua casa e o ataque que sofreu. Para a surpresa do nobre, ele pôde confiar nos seus parceiros de classe…

QUATRO ANOS DEPOIS: Samoht se forma e se torna o mais prestigiado estudante de magia antiga do país. A alquimia, matemática, filosofia antiga e a metafísica lhe renderam-lhe o título de “Luz Arcana”. Junto a seus colegas de classe ele funda uma sociedade secreta chamada “Samoehtia” e, com o passar dos anos, Samoht Ongam tornou-se uma lenda.

FIM

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Pois é, este é o último capítulo da série “Memórias de um Nobre”. O nosso nobre Samoht enfim pôde descansar estudar em paz e, até onde se sabe, não foi atacado por criatura alguma. É com isso que me despeço do personagem Samoht Ongam… Foi muito bom escrever tuas histórias, jovem nobre…

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Thomas Magno

 

Uma consideração sobre “Memórias de um Nobre”

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